06 janeiro 2011

Enferrujada Pela Maresia

imagem google


ENFERRUJADA PELA MARESIA
Ela mora na grande cidade e ele sempre morou no litoral. Conheceram-se pela internet, nessas salas de bate papo. Logo trocaram números de telefone celular e endereços para mensagens instantâneas também pela internet.
Sueli é o seu nome, trinta e três primavera, estatura média, branca, olhos castanhos escuros, cabelos de um louro castanho ou castanho louro propriamente dito. Acha-se um pouco acima do peso, mesmo com todos seus amigos e familiares afirmarem que está ótima e não tem o que emagrecer. Trabalha como vendedora em alguma loja na 25 de Março e está prestes a tirar suas férias.
Marcos é o nome dele, trinta e oito verões, branco da pele queimada, olhos esverdeados e cabelos lisos. Não tem os músculos inchados e nem murchos, um homem atraente e galanteador. Dono de seis quiosques e três imóveis – dois deles alugava para turistas – o maior deles é feito de sua moradia, esta por sua vez, localiza-se próximo a outra praia não muito freqüentada pelos banhistas.
Um ciclo de quatro semanas percorridas por completo. “Falavam-se” todos os dias e preferiam usar, com mais freqüência, os sms, já que são mais baratos do que a ligação de celular. Já se atendem por apelidos e outro termos banalizadamente carinhosos – “’amore’, amor, meu anjo, Su, Má e qualquer coisa que possa florescer das mentes inundadas pela paixonite cegante.
Como quase todos os seres vivos, os humanos também têm suas necessidades fisiológicas e uma delas é a satisfação por meio de terminações nervosas localizadas em pontos estratégicos do corpo. Aparentemente essa necessidade é mais sentida pelos humanos, em especial o homem, mas quando ficam por um longo período sem a satisfação provocada e realizada junto ao outro, todos passam a tê-la na mesma proporção sem moralismos. Logo na primeira semana de contatos, já conversavam sobre satisfações e algumas formas de consegui-las.
Com uma semana de comunicação e sem saber muito sobre tecnologia, Sueli comprou uma webcam a pedido de Marcos cuja sua, às vezes, era ligada para que sua donzela pudesse vê-lo. Depois de instalada, conversavam ambos com suas “cams” ligadas e após alguns dias, no embalo das conversas sobre satisfação, Marcos mostrou seu pênis e ela sua vagina. Masturbaram-se até. A “cam” dela não tinha uma imagem muito definida e tal fato fez com ela descrevesse detalhadamente dando cor, volume, aromas, textura.
Como já estava virando costume, conversavam quase todos os dias, também, pelo telefone.
_ Nossa, você é muito linda.
_ Obrigada, mas não sou tão bonita assim.
_ É sim, uma moça para casar.
Ela riu desconcertada.
_ Que foi que você riu?
_ Nada, é que você é muito charmoso.
_ Sou nada, você vai ver quando vir pra cá. Cuidado para não se assustar.
_ Já te vi pela webcam e na verdade eu te achei muito bonito.
Ele riu.
_ Você também. E que xoxotinha linda que você tem.
_ Assim você me deixa envergonhada.
_ Adoro essas com vergonha, eu sei bem como deixá-las à vontade.
Sueli não gostou muito de ouvi as palavras “deixá-las”. Sentiu certo desconforto, no entanto, preferiu não dar muita atenção para.
_ Sabe é? Mas eu sou muito tímida.
_ São dessas que eu gosto. Alias você não me disse o que achou...
_ Achei? Achei o quê?
Ele riu um pouco sem graça: _ Você sabe, eu vi você e você me viu, entendeu?
Depois de rir mudamente Sueli respondeu exatamente o que Marcos queria ouvir:
_ Eu achei muito bonito, e olha que sou chata pra isso. – Ressaltou algumas características e adjetivou da forma que quase todos os homens adoram ou adorariam ouvir alguém falar sobre seus orgulhos ou nem tanto orgulhoso assim.
O tom de voz dele mudou, ficou mais animado, mais inflado e ela percebeu, mas não disse nada e só continuou a conversa que durou cerca de treze minutos.
_ Olha Su, eu estou curtindo bastante você, estou doido para você passar o feriado aqui comigo para gente se conhecer melhor e sair do virtual.
_ Claro que vou, estou muito ansiosa para conhecer meu futuro homem.
Silêncio
_ Alô? Está aí?
_ Estou sim minha deusa, acho que a ligação está cortando. Vou desligar ta bom? Mais tarde agente se fala mais pela net.
_ Está bem.
_ Tchau minha linda, gosto muito de você viu?
_ Eu também estou gostando de você.
_ Tchau.
Três dias depois, um domingo, Sueli saiu de férias e coincidentemente na semana do feriado prolongado, próxima quinta. Marcos e Sueli conversaram bastante pela internet e resolverem detalhes para o primeiro encontro deles. Ele a esperaria na rodoviária e ela passaria o feriado e o final de semana todo com ele.
Ele a esperava de carro, um palio branco. Ela sorriu, ele permaneceu sério até que ela chegasse mais próximo para então sorrir e cumprimentá-la com um rápido beijo. Parecia que ela não era exatamente o que ele esperava, mas sabemos e ouvimos dos homens que eles não dispensam, uma vez, que tal ação representa uma vergonha tamanha para muitos que se esforçam cansativamente para achar que conseguem chegar ao pico da montanha ou até a nascente do rio.
Era aproximadamente onze horas da manhã. O litoral estava cheio de turistas e foram juntos comer em um dos quiosques de Marcos próximo à areia da praia e depois foram para casa dele próxima a outra praia menos freqüentada por banhistas. Estava muito quente, e Sueli ficou encantada com o imóvel do seu suposto namorado, ficou a maior parte dos primeiros momentos na sala, um espaço grande, com um grande e largo sofá, algumas almofadas sobre o chão, um grande e aveludado tapete branco, uma imensa janela de vidros para a praia quase deserta. Por ela podia ver-se um ajeitoso jardim próximo a vidraça, uma baixa cerca de madeira e mais ao fundo, uma grande montanha coberta de verde e aos seus pés uma areia cor de pele sobre onde ondas vinham e iam num balanço leve e delicado e um grande coqueiro quase curvava-se ao lado oposto da montanha já um pouco mais próximo da residência. Sueli, ali, parada em pé, encantada com a paisagem que via, ainda estava um pouco desconcertada e pensava o quanto estava sendo louca e imatura. Esperava pelo término do banho de Marcos.
Ele chegou enrolado em uma toalha branca, sem camisa com os cabelos molhados. Pediu desculpas pelo traje e se justificou dizendo que esqueceu de levar sua roupa para o banheiro já que não tem o costume de fazê-lo. Ela ficou meio sem graça e suas bochechas coraram um pouco. Marcos dirigiu-se para o quarto, mas logo fez uma expressão de quem acaba de se lembrar de algo e foi para a cozinha do lado oposto da sala sugerindo à Sueli que ficasse a vontade e perguntando se ela queria beber alguma coisa. Ele trouxe uma latinha de refrigerante e na outra mão trazia uma pequena garrafa de cerveja fechada. Entregou a latinha à moça e abriu a garrafa com a mão. Ela podia ver o volume pela toalha que estava, naquele momento, um pouco molhada e não sabia se olhava para o peito normal com pouco pelos, ou para toalha ou para seus olhos esverdeados. Era nítido que ela estava sem graça.
Um surpreso beijo veio à tona, estavam ambos em pé. Ele passou um dos braços pela cintura dela e a puxou contra o corpo dele. Ela que segurava a latinha com uma das mãos a frente do corpo fez ele se arrepiar com o gelo do objeto contra o peito. Riram e ele após colocar sua garrafa sobre um dos móveis que estava próximo, pegou da mão dela a lata e a colocou sobre o mesmo móvel. Beijavam-se e com suas mãos fortes segurava a nuca dela. Sentaram no sofá e as pontas dos dedos de ambos percorriam os dois corpos e acariciavam um ao outro de forma honesta. Entregavam-se um ao outro. Logo ficaram despidos e beijaram-se mais e ela passou seus lábios em todo o corpo dele e ele fez o mesmo no corpo dela. Estava quente, já estavam deitados no sofá, ele embaixo dela, segurava seus cabelos e beijava sua boca. Ele se sentou e ela ficou no colo dele de frente. Observavam o corpo um do outro e juntos passaram um início de tarde romântico e realmente carinhoso. Amaram-se de forma que se tornou eterno nas lembranças de Sueli que nunca fora tratada de tal maneira, com tanto carinho, respeito, desejo e amor. Cochilaram enquanto o sol quente banhava o mar que banhava a areia que cumprimentava o coqueiro que olhava para o jardim onde as rosas, flores e o capim cochichavam.
Naquele mesmo final de tarde, foram até a praia e ficaram juntos assistindo ao por do sol. À noite, fizeram amor novamente, mas de uma forma mais libidinosa. Ela atendeu aos pedidos dele, enfiar até a garganta, ficar de quatro. Ele atendeu aos pedidos dela, lambê-la, dar batidinha no rosto dela, lambuzá-la o rosto. Esse último desejo causou-lhe surpresa, mas o atendeu todo excitado e contente pelo pedido. Juntos fizeram quase tudo o que podia vir de suas mentes, suas fantasias e tal cena repetiu-se também nos próximos dois dias – sexta-feira e sábado.
Ela ficou desapontada no sábado à noite quando Marcos disse que ela teria que voltar para a grande cidade no domingo pela manhã, os motivos apresentados por ele foram relacionados ao trabalho dele e uma viagem ao litoral extremo norte. Sueli percebeu que não tinha o que fazer a não ser voltar. Depois de arrumar suas coisas e de conversarem um pouco tentou ser tratada como foi pela primeira vez que chegou ali. No entanto, não conseguiu sentir que aquele ato fosse idêntico ao primeiro. Mas se sentiu realizada na medida do possível e teve dois orgasmos e um deles foi quando Marco a masturbava enquanto brincava de se esfregar em suas nádegas. Sueli recusou um dos pedidos dele que insistiu umas três vezes, mas em vão.
Acordaram às cinco e meia da manhã, ela foi levada à rodoviária, beijaram-se rapidamente e se despediram.
_ Gostei muito de te conhecer Su.
_ Eu também, estou louca para te ver novamente.
_ Nossa nem me fala, só de imaginar você rebolando na minha vara de novo hein.
Ela riu e ficou sem graça:
_ Eu adorei aquela nossa primeira vez.
_ Eu também, algo especial não é? Um momento especial com uma mulher especial.
_ Quando nos veremos novamente?
_ Olha eu vivo um pouco na correria, mas vamos nos falando.
Despediram-se. Ela entrou no ônibus e pegou a estrada. Ele voltou para casa, tirou sua calça, depois a camiseta e só de cueca voltou a deitar para dormir mais um pouco. Mais tarde, foi à praia, deu um mergulho, comeu em dos seus quiosques e flertou um pouco com uma linda turista de pele negra com curvas bem salientes, cabelos todo em finas e cumpridas tranças. Ela ficaria só mais algumas horas no litoral, mas era o suficiente para juntos satisfazerem-se por terminações nervosas.
No mesmo dia, mais tarde, Sueli tentou ligar para Marcos, mas seu celular dava fora de área. Não o encontrou na internet. No dia seguinte, o telefone dele tocou, mas não atendeu. Sueli já entendia o que acontecia e sentiu raiva de si mesma e de Marcos. Quando pela força da teimosia, conseguiu falar com seu amado.
_ Oi Su.
_ Oi amore, tudo bem?
_ Tudo sim e com você?
_ Estou bem, estou tentando falar com você esses dias, mas...
_ Olha minha deusa, agora estou um pouco embaçado aqui com um problema em um dos quiosques. Posso te ligar depois?
_ Pode sim, claro. 
Sueli tortura-se por achar que deveria ter deduzido isso ou aquilo, que deveria ter feito isso ou não ter feito nada. Que poderia ter mais beleza ou talvez um pouco mais de dinheiro. Por vezes, queria ter nascido homem. E ainda espera pela ligação.

Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 01/01/2011
Código do texto: T2703054



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